segunda-feira, 30 de julho de 2007

O Moinho (O Assombro)

As pesadas pás do moinho
Obedecem ao lufar do vento
Girando indóceis em torvelinho
Refreá-las tento

Um catavento

Acabrunhado moinho despótico
Sob um tépido riacho
Simpático mecanismo quixótico
Idealizado para mover

Seja ar ou movido por líquido
Com um propósito bífido
O moinho roda e age
Como um viver
Cíclico

Pois quando a respiração estanca
Ou se água falta
Ou ao quebrar uma alavanca
E moinho não poder girar
O círculo desanda
O sopro esvai

Mesmo movendo um ideal pérfido
Sustentado por figurões báquicos
Essa força que mobiliza
Impressiona

Um milhão de cabeças giram
Enquanto observam vidradas
E giram satisfatoriamente felizes
Embora acorrentadas nas pás
Temendo Satanás

Arre, ao menos eu descanso em paz...

domingo, 29 de julho de 2007

O Poeta do Carrasco

Quando te vi no desespero e na agonia
Este poeta estendeu a mão
Entre mais profundos sentimentos
Decapitou o taciturno em questão
E a cada dia tento esquecer
Algum medo não esquecido

Não permita que eu vá
Onde o desconhecido me aguardar
Não quero saber
Onde me esconder
Permaneço nesta ilusão salutar
Ainda que todos me ultrapassem

Frustrante é a impossibilidade de lutar
A letargia de um não saber, de um calar
Espero inquieto em um tempo que não pára
Aterrorizado a cada momento

Não quero ir, covarde do jeito que sou
Vejo uma velha velando um relógio de bolso
Uma menina brincando sobre os destroços de um corpo

Perante o relance de uma vida despedaçada
Agarro uma mão que me lograva
Abraço meu algoz que brincava com versos
Com júbilo e cabeça arrancada

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O título é passível de mudança, talvez eu mude, talvez não...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Prato Vísceras

Por ora saciarei fome com estas vísceras
Algumas sobras mortais do dia de ontem
Da minha fonte agora jorra sangue
Hemácias simpáticas dançam entre os litros
Preenchendo meu corpo cavernoso
Se ocorre pensar em trompa de falópio

Meu cérebro se desmancha e vislumbra
Preâmbulos roliços de baço e fígado
Pedaços apetitosos de pâncreas salgado
E cem gramas do melhor apêndice dourado

Coração no espetinho com globos oculares
Parecem enxergar a profundidade da textura
Saborosa e anatômica do estômago lacerado
Desdobrado, cozido e requentado

Do delgado intestino fizeram o chouriço
E do grosso um refinado aroma
É um almíscar que penetra reto
Um bálsamo em invaginações ansiosas

Na última ceia a mais fina iguaria
Charutinho de pulmão refogado
Sobremesa feminina - útero com fel
Cardápio de luxo, cartilagens acompanham.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Para-Frases

Vejo frases, desleixadas
Imersas em ambigüidades
Deformadas em clichês
Imaginando superioridade Maiúscula

Quero passá-las ao fio da estética
Com poética, hermenêutica
Vislumbrá-las em sua totalidade
Despidas de valores humanos
Frívolos vulgares-comuns

Qual mãe que come sua placenta
Digerindo invólucros com sabor de aspargos
Palavras alcoólicas com teor noventa
Segregam o escol da ralé pestilenta

Porque vazias, às centenas
É que não devem ficar

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Ouvindo Viscera Eyes, do the Mars Volta

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Falha na Lógica

Mães sofrendo de câncer na próstata
Filhas horríveis vendendo cebolas na feira
Velhas decrépitas fazendo cocô e jogando bingo

Ah
Posso eu ser a razão
De uma inversão humana
Porque eu posso
Eu mudo
Assim.

Queiram atirar alguns versos em mim
Assim como pedras vararam prostitutas
E tomates junto aos apupos
Para artistas desvairados

Posso eu ser a razão
Da infância maculada
Adolescência libertina
Peladas engaioladas
Grávidas esfoladas
Vida indecente
Velhice inútil

Não somente palavras moças estiradas em mesas
E estrofes adultas inteiras sob jugo celeste
Incendiaram junto com velhas tradições
As medidas desmedidas asiladas

Violar sepulturas como requinte
Tão saudável como piquenique
Feminilidade retratada num boquete

Posso eu ser a razão
Da razão humana
Encerrada nesta
Sobremaneira
Impávida

Dançando valsa com marionetes
Nos crepúsculos artificialmente delineados
A vida humana mantém um segredo
Fechado numa caixa guardada pela Branca-de-Neve

Posso eu ser a razão
Das mentiras selecionadas
Contagiosas, ervas daninhas
Trepadeiras maliciosas
Inescrupulosas

Deliciadas as ninfetas enxugam seus lencinhos
Roupinhas de griffe compradas em uma loja podre
Precisam adquirir mais artigos de luxo
Nos sex-shops científicos

Rezem para aquele que se esconde através dos fractais
Ele que passa a eternidade ouvindo música alta
Flertando com o caos em meio à fumaça
De uma rave profana

Sexo nas alturas
A humanidade se engana
Sexo nas alturas
A humanidade se engana

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Ouvindo Day of the Baphomets - The Mars Volta

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Você no Outro Mundo com Os Aqueles

Você é uma combinação de indivíduos
Misturado a talentos visionários
Moldado pela pragmática misteriosa
Um ponto de equilíbrio
Austero, inefável.

Separação em um percalço - um passo em falso
Em tom conclusivo
Nada desvia do seu objetivo
É ferrenho como o ferro
Dotado de grande capacidade
Pavoroso.

Não hesita - abusa
De força, por meios
Obscuros, desafiadores.

Você esta só, sei que está
E ouve murmúrios
Contextos e vozes intermitentes
Completam uma lacuna grotesca
Algo apenumbrado, indefinido
Por trás da palavra
Você não me escapa.

Você, está.

Sinta seu ser
Em verbo e em
Nome de Deus
Sua última vítima
Que eclipsou, outrora
Uma profusão de seres

Aqui, nesta clausura
Estou pronto para mostrar-lhe
Um outro mundo
Resplandescente.